A busca pela harmonia, equilíbrio e beleza nas obras arquitetônicas sempre caminhou lado a lado com a matemática. Dentre os conceitos mais fascinantes que unem arte e ciência, destaca-se a proporção áurea — um número irracional que permeia desde as formas naturais até os grandes ícones da arquitetura clássica e contemporânea.
Neste artigo, você vai entender o que é a proporção áurea, suas bases científicas, como ela é aplicada na arquitetura e por que continua sendo uma ferramenta relevante para projetar espaços agradáveis aos olhos e à alma.
O que é a proporção áurea?
A proporção áurea, também chamada de número de ouro, divina proporção ou phi (φ), é representada aproximadamente por 1,618. Ela é o resultado da divisão de um segmento em duas partes de modo que a razão entre o todo e a parte maior seja igual à razão entre a parte maior e a menor. Matematicamente:
(a + b)/a = a/b = φ ≈ 1,6180339887...
Este número já era conhecido pelos antigos gregos e foi formalizado por Euclides no livro Os Elementos (c. 300 a.C.). O termo “divina proporção” foi popularizado pelo matemático e monge Luca Pacioli, em sua obra homônima de 1509, ilustrada por Leonardo da Vinci.
Base científica e neuroestética da proporção áurea
Estudos de neurociência e psicologia visual têm mostrado que a proporção áurea está intimamente relacionada à percepção de beleza. Pesquisas como as de Christopher Tyler (Institute for Eye Research, EUA) demonstram que o cérebro humano tende a preferir relações proporcionais que se aproximam do φ, por serem percebidas como mais naturais e equilibradas.
No Brasil, a pesquisadora Dina Oliveira (UFMG) discute a importância da proporção áurea na formação do senso estético ocidental, e como ela influencia desde a arte até a ergonomia do espaço arquitetônico.
Aplicações da proporção áurea na arquitetura clássica
A proporção áurea foi aplicada exaustivamente por civilizações antigas e se tornou marca registrada do ideal clássico de beleza. Exemplos célebres:
- Partenon de Atenas (447 a.C.) – As proporções da fachada seguem o φ, assim como as relações entre colunas e espaçamentos.
- Catedrais góticas – Como Notre-Dame de Paris, com janelas e abóbadas desenhadas segundo retângulos áureos.
- Le Corbusier e o Modulor – O arquiteto suíço desenvolveu um sistema de medidas baseado na proporção áurea e no corpo humano, visando criar edifícios mais humanizados.
“A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes sob a luz” — Le Corbusier, que baseava esses “volumes” em proporções matemáticas perfeitas.
Proporção áurea na arquitetura contemporânea
Engana-se quem pensa que a proporção áurea ficou restrita ao passado. Ela é amplamente utilizada na arquitetura contemporânea, mesmo em estilos minimalistas ou paramétricos, seja de forma explícita ou intuitiva.
Exemplos notáveis:
- Museu Guggenheim de Nova York (Frank Lloyd Wright) – As espirais e proporções entre os pavimentos seguem a razão áurea.
- Apple Park (Foster + Partners) – O novo campus da Apple em Cupertino foi projetado com base em retângulos áureos e espirais de Fibonacci.
- Museu Oscar Niemeyer (Curitiba) – Embora Niemeyer fosse mais intuitivo do que matemático, há proporções que se aproximam de φ nas curvas da estrutura e do “olho”.
Como aplicar a proporção áurea em projetos arquitetônicos
- Layout de planta baixa: A relação entre os ambientes pode seguir retângulos áureos, favorecendo uma circulação mais natural e harmônica.
- Fachadas: Ao projetar a fachada, dividir a altura pela largura (ou vice-versa) com base na proporção áurea gera um equilíbrio visual agradável.
- Escadas e mobiliários: Os degraus, nichos e até a disposição de estantes ou armários podem ser desenhados respeitando φ.
- Elementos decorativos: Quadros, molduras, espelhos e luminárias em formatos áureos causam impacto sutil, mas eficaz.
- Paisagismo e urbanismo: O traçado de jardins, parques e praças também pode se beneficiar das espirais e retângulos dourados, promovendo maior fluidez espacial.
Dica da Mari, arquiteta
Embora nem todo projeto precise seguir fórmulas matemáticas para ser belo, a proporção áurea é um atalho inteligente para criar espaços atemporais e aconchegantes. Ao integrá-la ao projeto arquitetônico — mesmo que de forma intuitiva — você garante uma sensação de equilíbrio quase instintiva para quem ocupa o espaço.
✨Eu sou Maristela Bassani arquiteta e designer de interiores e atuo na Fazenda Rio Grande.
Referências científicas
- Tyler, C. W. (1998). Psychophysical evidence for the golden section. Perception, 27(10), 1325–1338.
- Livio, M. (2002). The Golden Ratio: The Story of Phi, the World's Most Astonishing Number. Broadway Books.
- Oliveira, D. P. (2015). A proporção áurea e a estética da forma arquitetônica. Dissertação de Mestrado, UFMG.
- Pacioli, L. (1509). De Divina Proportione.
- Le Corbusier (1948). Le Modulor.